O que é a Humildade?

"Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas." (Mt 11, 29)

Na nossa caminhada de fé encontramos muitos buracos que dificultam a nossa passagem. Diante disso temos apenas duas escolhas: pular ou cair. Estes acidentes na estrada - que aqui estamos referindo às provações - são permitidas por Deus como um método pedagógico, que proporciona o nosso crescimento e amadurecimento, quer seja na vida espiritual, quer seja na nossa vida cotidiana.

Ora, nenhum de nós, diante de uma provação, deseja cair, nem Deus o deseja, por isso Ele nos incube das graças necessárias para atravessar os momentos de tribulação, jamais permitindo uma provação maior do que as nossas forças, como bem nos recorda São Paulo em sua primeira carta aos Coríntios:

“Deus é fiel e não permitirá que sejais provados acima de vossas forças. Pelo contrário, ele providenciará o bom êxito, para que possais suportá-la” (I Cor 10,13).

Uma vez que nós, com determinada determinação, como costumava dizer Santa Teresa d'Ávila, tomamos o propósito de seguir a Cristo, Deus, em sua infinita misericórdia e bondade, vai nos cumulando de graças na medida em que nós mesmos vamos depositando n'Ele a nossa confiança, agindo Deus, desta forma, como o nosso grande guia, mestre e companheiro que aponta o caminho que devemos seguir, nos ensina o modo de atravessar e nos auxilia em todas as dificuldades do percurso.

Acontece que, com o tempo, somos tentados a nos esquecer deste auxílio de Deus, uma vez que, já acostumados a atravessar as dificuldades da vida com certa presteza, achamos que já estamos muito avançados e que, se em nós começou a florescer as virtudes, elas provém de nossos próprios méritos, frutos da nossa própria força. Eis aí a semente do orgulho que nos faz agir como uma criança que, uma vez que deu o primeiro passo vacilante, pensa que não precisa mais do apoio do pai para manter-se de pé.

Soberba: uma ilusão de si mesmo

A partir do momento em que a pessoa volta demasiadamente o olhar para si mesma, ela vai criando um amor desordenado à própria imagem, dando origem ao maior obstáculo na vida espiritual: a soberba.

São Bernardo de Claraval nos indica diferentes manifestações progressivas da soberba:

  • A curiosidade, o querer saber tudo de todos;

  • A frivolidade de espírito, por falta de profundidade na oração e na vida;

  • A alegria tola e deslocada, que se alimenta frequentemente dos defeitos dos outros e os ridiculariza;

  • A jactância; o prurido de singularidade; a arrogância; a presunção.

  • O não reconhecer jamais as falhas próprias, ainda que sejam notórias;

  • A relutância em abrir a alma ao Sacerdote na Confissão, por parecer que não se têm faltas;

  • O soberbo é pouco amigo de conhecer a autêntica realidade do seu coração e muito amigo de calcar os outros aos pés, seja em pensamento, seja pelas suas atitudes externas.

Como podemos ver, a pessoa orgulhosa é aquela que toma para si o mérito de todas as suas boas obras, virtudes, acertos e avanço na vida espiritual. É a pessoa que traz para si a doce ilusão de ser Deus, ou portador de atributos divinos. Quem está cheio de orgulho exagera as suas qualidades, enquato ignora os seus próprios defeitos, acabando por considerar uma grande qualidade o que na realidade é um desvio do bom critério; persuade-se, por exemplo, de que tem um espírito magnânimo e generoso porque faz pouco caso das pequenas obrigações de cada dia, esquecendo que, para ser fiel no muito, tem de sê-lo no pouco. E por esse caminho chega a julgar-se superior, rebaixando injustamente as qualidades dos outros que o superam em muitas virtudes.

Este é um perigo real que põe a perder todo o avanço na caminhada de fé, pois uma vez que fechamos os olhos para admirar a falsa imagem que criamos de nós mesmos, tiramos o olhar de Cristo que nos aponta para o imenso fosso que vem logo adiante e o resultado disso é uma grande queda.

Mas quem, de fato, sou eu?

Voltando ao início deste artigo vimos que é Deus quem possibilita o nosso bom êxito diante das dificuldades. É Ele quem concede os talentos e as virtudes, tanto naturais como na ordem da graça, que pertencem diretamente a Deus, porque da sua plenitude, todos recebemos.

Deus é bom e só Ele é bom, como nos diz o próprio Jesus (Mc 10, 17-18), todos os bens naturais e sobrenaturais provém única e exclusivamente de Deus; a deficiência e o pecado, esses, sim, provém de nós, humanidade decaída em decorrência do pecado original e dos pecados atuais.

Ora, se tudo o que é bom provém de Deus que é o Sumo Bem, quem sou eu e quem é você para se orgulhar de alguma coisa?

Santa Teresa d'Ávila nos ensina que "humildade é andar na verdade". Andar na verdade significa ter o conhecimento pleno de si, de suas fraquezas e fragilidades e reconhecer que de si não pode sair nada de bom, a não ser que Deus o permita.

Humildade não significa mediocridade

Ao contrário do que possa parecer, ser humilde não é "andar com a cabeça torta" tampouco criar dentro de si um complexo de inferioridade. A humildade consiste em uma visão sobrea da nossa realidade como pequenas e frágeis criaturas de Deus, e que todos os nossos talentos e virtudes nos foi dada por Deus, com a finalidade de fazê-los render com o coração reto.

A humildade nos faz enxergar que não valemos nada - por mérito próprio -, e ao mesmo tampo nos impele a perceber com maior alegria que "somos portadores de essências divinas de um valor inestimável".

Conselhos práticos para viver a humildade

  • 1° Pedir incessantemente a Deus: Como todo dom de Deus, a humildade também é uma graça que somente Ele pode conceder aos que a desejam e lha suplicam.

  • 2° Tenha uma sã desconfiança de si mesmo: Reconhecer as nossas fragilidades nos faz estar atentos a possíveis caídas e tropeços. Temos a natureza boa, mas ferida pelo pecado.

  • 3° Procurar, na medida do possível, falar pouco de si mesmo, de seus assuntos, de tudo aquilo que te exaltaria aos olhos dos outros.

  • 4° Procure evitar sempre a ostentação de qualidades, bens materiais, conhecimentos...

  • 5° Confie em Deus: Sabemos que sozinhos não podemos contra os nossos pecados e fragilidades. Necessitamos da ajuda de Deus e este, como nosso bondoso Pai, estende constantemente a Sua mão para nos levantar, proteger e nos conduzir em seus caminhos.

  • 6° Aceitar as contrariedades com paciência, sem mau humor, oferecendo-as com alegria ao Senhor. Aceite sobretudo as pequenas humilhações e injustiças que se produzem na vida diária, pensando sinceramente: "Que é isso para que eu mereço?" (Caminho, n°690)

  • 7° Fugir de ser admirado ou estimado, retificando a intenção perante os louvores e elogios. Procure alcançar o maior prestígio profissional possível, mas por Deus, não por orgulho, nem para pisar nos outros.

  • 8° Por último e mais importante: ponha os olhos em Jesus Cristo, modelo incomparável de humildade

O Padre Royo Marín nos indica quatro pontos sobre Cristo como temas para a nossa meditação:

i. a vida oculta, quando Ele se humilhou no seio da Virgem Maria e se fez Filho de um simples carpinteiro;

ii. a vida pública, com sua dedicação aos pobres e serviço aos mais simples;

iii. a paixão, ocasião em que lavou os pés dos discípulos e deixou-se ser humilhado e açoitado pela nossa salvação; e

iv. a Eucaristia, ápice de sua entrega com o ocultamento também da natureza humana, e por todas as descortesias e ofensas que aceita no Sacrário.

Referências

  1. https://comshalom.org/a-virtude-da-humildade/

  2. https://padrepauloricardo.org/blog/tres-meios-para-se-chegar-a-verdadeira-humildade?gclid=Cj0KCQjw0bunBhD9ARIsAAZl0E00epBH8x54TivFPB6lWyshzkWGQSWhA_ZT4BMxAxLRAL-UMkR9UAMaAq44EALw_wcB

  3. https://www.cnbb.org.br/humildade-para-ser-cristao/#:~:text=Santa%20Teresa%20de%20%C3%81vila%20nos,Deus%20e%20o%20seu%20mist%C3%A9rio

  4. http://vidacrista.org.br/8-conselhos-para-viver-a-humildade/

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