Hoje, primeiro domingo depois de Pentecostes celebramos com grande júbilo a Solenidade da Santíssima Trindade, o mistério central da nossa Fé.
Mas quem é Deus? Como explicá-Lo? Como defini-Lo? Como conhecê-Lo?
O Mistério Central da nossa Fé
A Santíssima Trindade é o mistério central da fé cristã e está presente na mais medular das invocações católicas. Afinal, todas as vezes que dizemos “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” estamos fazendo referência e reverência a esse mistério, que o é em sentido estrito. Isso quer dizer que é inacessível à pura razão.
Para entender o que acabamos de dizer, basta fazer um simples exercício de consciência. Um católico jamais será capaz de explicar por vias da razão a Santíssima Trindade. No entanto, compreendemos no fundo da nossa alma que isso é verdade mesmo que não saibamos explicar. E quanto mais íntimo de Deus, maior é essa certeza.
O que é acessível às nossas faculdades intelectivas é: Deus é Trino e Uno. Isso quer dizer que há 3 pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. E os três não são divindades separadas e nem dividem uma mesma divindade. Mas todos são Deus por completo. Essa lógica é o que explica a frase: “Deus é único, mas não está só”.
Santo Tomás de Aquino exortava que “Ao discorrer sobre a Santíssima Trindade, importa proceder com prudência e reserva, porque, conforme diz Santo Agostinho, não existe estudo onde o erro seja mais perigoso, as investigações sejam mais penosas, as descobertas sejam mais frutíferas”. Sabendo dessa limitação, para tornar mais palatável às nossas mentes, podemos pensar em três chamas de vela que, quando se juntam, mantém a mesma essência.
A Santíssima Trindade é o mistério central porque trata da essência de Deus. E, como falamos anteriormente, isso nos é revelado por Ele, pois por nossas próprias forças pararíamos em uma limitadíssima razão. Podemos explicitar a primordialidade em dois exemplos simples:
1) É uma realidade que vemos ser pregada e vivida desde o início da Igreja. Desde sempre os Apóstolos, seguindo a palavra do próprio Cristo, batizavam em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
2) A Trindade foi alvo de boa parte das primeiras grandes heresias da Igreja. Ora, pensem! Se não fosse algo muito dentro da vivência cotidiana dos cristãos dos primeiros séculos, não haveria o nascimento de tantas heresias, como o Monofisismo e o Arianismo. Aliás, os Concílios da época (em especial o de Niceia) foram fundamentais para o estabelecimento da doutrina trinitária.
A Santíssima Trindade nas Escrituras
O Catecismo da Igreja, em seu ponto 237 afirma que: “Sem dúvida, Deus deixou vestígios de seu ser trinitário em sua obra de criação e em sua revelação ao longo do Antigo Testamento”.
Podemos, portanto, achar traços desse mistério em diversas passagens bíblicas:
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“No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra era sem forma e vazia, e sobre o abismo havia trevas, e o espírito de Deus pairava sobre as águas.” (Gn 1,1-2)
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“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. Ela estava no princípio com Deus.” (Jo 2, 1-3)
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“Jesus disse: Eu ainda não subi para junto do Pai, mas vai dizer aos meus irmãos que eu subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” (Jo 20, 17)
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“Depois de batizado, Jesus saiu logo da água. Então o céu se abriu para ele, e viu o Espírito de Deus descer como pomba e vir sobre ele. Uma voz do céu disse: ‘Este é o meu Filho amado, no qual eu ponho o meu agrado’” (Mt 3, 16-17)
É lindo ver que desde o início dos tempos, passando pelo ápice da Encarnação, Morte e Ressurreição de Jesus, chegando até nos dias de hoje, Deus é imutável!
As atribuições de cada Pessoa
Deus Pai é Todo-Poderoso. Deus Filho é a Sabedoria Encarnada. O Espírito Santo é o Paráclito e o Espírito de Amor. Podemos garantir que, em algum momento da caminhada de fé, você já ouviu essas frases. Aí vem o grande questionamento: mas, se Deus é Uno, então Deus Pai não é sábio, Deus Filho não é amoroso e Deus Espírito Santo não é Todo-Poderoso?
O Papa Leão XIII na Carta Encíclica “Divinum Illud Munus” nos responde brilhantemente esse questionamento. Caímos mais uma vez nas nossas limitações racionais. O que fazemos é nos apropriar de algumas imagens e representações das criaturas e transferi-las às figuras das Pessoas divinas, seus atributos e suas afinidades.
Portanto:
1) Deus Pai é o princípio e causa eficiente de tudo, afinal é o Criador e Aquele que deseja que nós, criaturas, nos tornemos filhos e participemos de Sua Glória.
2) Deus Filho é a causa exemplar de tudo, afinal, é por meio de sua Encarnação que nos é dado a revelação máxima de fé e a luz sobre qual caminho trilhar.
3) Deus Espírito Santo é a causa final de tudo, afinal, é movidos por Ele que somos impelidos à Santidade, mostrada que é possível por Deus Filho e desejada por Deus.
A unidade e a igualdade das três Pessoas da Trindade
Um dos principais comentadores da Trindade foi Santo Agostinho, que elaborou sua obra “De Trinitate” (Sobre a Trindade). Santo Agostinho enfatizou a unidade e a igualdade das três pessoas da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus em essência. Ele usou analogias, como a mente que pensa, a palavra que é expressa e o amor que une para ilustrar a relação entre as pessoas divinas.
Também ressaltou a importância da analogia da imagem de Deus na humanidade. Argumentava que a capacidade humana de amar e se relacionar espelha, de certa forma, a natureza trinitária de Deus. Assim, Agostinho incentivava os cristãos a viverem em comunhão e amor, refletindo a comunhão divina.
O fato é que a adesão ao catolicismo se dá no Batismo, e um Batismo Trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo). A partir disso, somos introduzidos no seio da Trindade e entramos no mistério divino por adoção filial. Sendo o Batismo a porta de entrada, os outros sacramentos também são manifestação da obra Trinitária na alma do fiel, manifestação visível através do rito e uso das matérias.
Por isso, celebrar os sacramentos é celebrar a Trindade. Ser católico é viver essa mística profunda que nos leva à transformação e união com o próprio Deus Trindade! Que Deus, nosso Pai, nos inspire a pôr em prática esses ensinamentos.
Fontes
Minha Biblioteca Católica. Santíssima Trindade: um mistério para se celebrar. Disponível em: <https://bibliotecacatolica.com.br/blog/formacao/santissima-trindade/>
Formação Canção Nova. Santíssima Trindade: Filho e Espírito Santo são um único Deus. Disponível em: <https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/santissima-trindade-filho-e-espirito-santo-sao-um-unico-deus/#:~:text=Santo%20Agostinho%20enfatizou%20a%20unidade,rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20as%20pessoas%20divinas.>

